É engraçado perceber o que é que nos inspira a escrever. Hoje foi esta foto do Gratisography intitulada “Vintage Podcast”.

Gostei da foto, mas acima de tudo a imagem recordou-me umas tardes quentes de 40 graus na terra natal, onde o estio se passava a inventar programas de rádio com um prato de vinil, um leitor de cassetes e um gravador, sim, porque a malta queria a coisa gravada em condições para depois poder ouvir.

Ainda tenho que perguntar ao Zé Ricardo se sobrou alguma dessas cassetes no sotão dele porque no meu já não existe nada.

Eram boas tardes, em misturas, alinhamentos, escolhas, discussões sobre a melhor banda, textos inventados em cima do joelho e os silêncios enquanto as músicas tocavam para não perturbar a gravação.

Depois disso nunca me deu para fazer rádio, mesmo no auge das rádios piratas e das muitas oportunidades que havia. Depois disso, nem sequer me deu para fazer um podcast e bem pensámos nisso durante o Vida-On. Ainda hoje tenho alguma dificuldade em criar playlists para ouvir mais tarde.

E dei por mim a pensar… porquê? Porque é que nunca mais tive esta vontade se ainda por cima agora tenho os meios todos à mão e mesmo aqui à minha frente? Basta abrir a app, ela abre o micro, captura o som, grava o ficheiro, upload… já está. Simples mais simples não há e tendemos sempre a complexificar as coisas.

Talvez seja mais fácil escrever a “queixar-me” do tempo e nomeadamente do governo que tem a culpa do tempo. Apesar de tudo é mais fácil escrever e deixar correr dedos nas teclas.

Talvez seja mais fácil olhar para uma imagem e deixar correr umas linhas.

Talvez seja mais fácil despejar por aqui os bolsos que abrir a voz e deixar sair sons na forma de palavras.

O que nos leva a escrever? Hoje foi apenas a foto que está ali em cima. E nem sequer havia conquilhas. Amanhã logo se vê.