Estava para aqui a ler a notícia sobre a obrigação de as universidades darem a conhecer a empregabilidade dos cursos e dei por mim a divagar.

Não ponho em causa que não existam cursos da tanga, que mais parecem pós-graduações que formações de base. Vimos muitos casos desses na euforia do acesso ao ensino superior. Por tudo e por nada se montava um curso superior, a olhar para uma necessidade que o mercado tinha. O problema é que desde a descoberta da oportunidade até sair a primeira fornada de jovens licenciados passavam 4 anos e a oportunidade desvanecia-se e o aluno sentia-se defraudado.

Este é o problema de se olhar para o ensino superior apenas como uma resposta ao mercado. Muito provavelmente já alguém estaria a lançar uma licenciatura seguida de mestrado sobre Facebook, entre muitas outras.

A formação é um percurso que nos deve dar as ferramentas para enfrentar desafios e desafiar-nos a entrar por caminhos diferentes, a aprender outras coisas, relacionadas ou não, paralelas, complementares ou divergentes. Deve adaptar-se aos tempos, naturalmente, mas há uma base de conhecimento que são as fundações para a sua construção futura e que lhe permitirão navegar pelas águas que queira.

Mais que mostrar dados de empregabilidade é importante mostrar portas secundárias e terciárias. Apresentar áreas de trabalho onde o tipo de conhecimentos que o aluno vai receber podem ser interessantes. Revelar tendências de futuro onde esse conhecimento possa vir a ser relevante. Isso sim, pode fazer a diferença.

Pensaram os antropólogos que podiam vir a ser tão importantes nos processos criativos e de inovação? Olhem para o método de trabalho da IDEO e digam lá se não os estão a ver? Entre outros claro.

Ao longo dos anos tenho frequentado vários cursos, e de cada um deles tenho retirado ensinamentos importantes para a minha actividade profissional mesmo que alguns tenham sido feitos apenas por gozo pessoal. O curso de dactilografia feito para encher as férias de verão nos idos de 80 do século passado serve-me para teclar mais depressa, apenas isso.

E para acabar, fico a pensar que as universidades deviam estar a apostar em “adaptarem” algumas das suas licenciaturas aos públicos mais maduros, que já passaram pela universidade, mas que querem voltar, explorar outras áreas de conhecimento, com outro ritmo, outro embalo, outra cadência, com horários pós-laborais e muitos etc’s. Estou a pensar em pessoas que a pensar na empregabilidade escolheram determinados cursos mas agora até gostariam de voltar ao seu sonho e frequentar filosofia ou germânicas ou história ou economia ou cinema ou… apenas pelo prazer de se enriquecerem.

Eu tenho a certeza de que voltarei aos bancos e até já tenho algumas ideias.